PREVENÇÃO E MANEJO DA LESÃO POR PRESSÃO: Intervenções para prevenção e tratamento da lesão por pressão

INTERVENÇÕES PARA PREVENÇÃO E TRATAMENTO



As superfícies de suporte são dispositivos especializados de redistribuição da pressão desenvolvidos para controlar as sobrecargas teciduais, o microclima e/ou outras funções terapêuticas. São considerados superfícies de suporte: colchões, colchões de sobreposição (colchonetes), almofadas de assento ou de sobreposição de assento.

Nesse contexto, a pressão refere-se à distribuição de forças na superfície corporal de uma pessoa que está em contato com o dispositivo. Quando uma pessoa afunda na superfície de suporte, seu peso pode ser distribuído em uma área maior. Se a superfície também envolver a pessoa (moldar-se a ela), a pressão do peso do seu corpo se tornará mais uniformemente distribuída e menos concentrada sobre as proeminências ósseas, onde as lesões por pressão costumam se desenvolver. Na prática, quando uma pessoa deita ou senta em uma superfície de suporte, seu peso faz com que a superfície de suporte e seus próprios tecidos moles em contato se deformem. O grau de deformação com potencial para dano depende do valor da pressão concentrada sobre pequenas áreas (Figura 12).


Figura 12: Efeito da pressão nos tecidos

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Fonte: CALIRI, 2018.


As superfícies de suporte são tipicamente construídas a partir de vários materiais, combinados ou não (espuma, gel e líquidos) e estruturas que formam módulos, bolsas ou células, organizadas em zonas que correspondem às localizações anatômicas.

As superfícies de suporte podem apresentar várias propriedades ou características. Certas superfícies de suporte podem controlar o nível de imersão e envelopamento do indivíduo, o microclima (incluindo aquecimento e resfriamento e umidade) e redistribuir a pressão periodicamente, entretanto dependem de energia elétrica para o funcionamento.

Equipe de pesquisadores, especialistas e representantes das indústrias, que pertencem ao NPUAP desenvolveu padrões que devem ser seguidos para o desenvolvimento e avaliação da qualidade das superfícies de suporte assim como para testar as suas propriedades (NATIONAL PRESSURE ULCER ADVISORY PANEL, 2007). Nessa perspectiva, espera-se que esses padrões internacionais também sejam seguidos no Brasil.

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São desenvolvidas para reduzir o risco de desenvolvimento de LP e deformam-se em resposta a uma carga aplicada (isto é, o peso e/ou a morfologia do paciente). O objetivo da superfície de suporte reativa é fornecer uma profunda imersão e um alto grau de envelopamento do corpo do paciente para reduzir a deformação causada pela concentração de pressão sobre as proeminências ósseas.

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São desenvolvidas para reduzir o risco de desenvolvimento de LP alternando, periodicamente, as áreas de pressão entre as regiões anatômicas para que a deformação não seja permanente em nenhuma área corporal. O recurso de deslocamento de peso é tipicamente obtido pela movimentação do ar para dentro e para fora das suas bolsas ou células.

Os fatores de risco para LP variam de paciente para paciente. Dessa forma, as superfícies de suporte devem ser escolhidas de forma individual, dependendo das necessidades de redistribuição da pressão e de outras funções terapêuticas.


RECOMENDAÇÕES GERAIS PARA SUPERFÍCIES DE SUPORTE – COLCHÃO E CAMA


Para selecionar uma superfície de suporte é preciso considerar as características do paciente e a necessidade de redistribuição de pressão com base nos seguintes fatores:

  • Nível de imobilidade e inatividade do paciente;
  • Necessidade de controle do microclima e redução do cisalhamento;
  • Altura e peso do paciente;
  • Risco de desenvolvimento de novas lesões por pressão;
  • Número, gravidade e localização de lesões existentes.

Outros aspectos que devem ser considerados estão relacionados ao ambiente da unidade de internação do paciente ou do domicílio como o peso da cama, a estrutura do edifício, a largura das portas, a disponibilidade de energia elétrica ininterrupta e uma localização segura e ventilação adequada para o compressor/motor da superfície de suporte.

O reposicionamento do paciente que está utilizando superfície de suporte reativa ou ativa continua a ser necessário para aliviar a pressão e por questões de conforto. No entanto, a frequência do reposicionamento pode ser alterada em função da utilização de uma determinada superfície de suporte, razão pela qual as recomendações fornecidas pelo fabricante devem sempre ser consultadas.

Importante ainda a realização, com frequência, do teste com a palma da mão, de forma a avaliar a adequação e funcionalidade das superfícies de suporte (Figura 2).

Pacientes em risco de desenvolvimento de LP não devem utilizar colchão comum (padrão) de espuma. Por sua vez, os colchões reativos, com espuma de alta especificidade, são adequados embora seja necessário o reposicionamento manual frequente, se possível. Caso contrário, utilizar uma superfície de suporte ativa.

Alguns colchões de ar e colchonetes (pneumáticos) são estruturados com pequenos compartimentos ou células com ar que alternam a pressão. Recomenda-se não utilizar aqueles que têm células pequenas (diâmetro ‹ 10 cm), pois essas não conseguem insuflar ar em uma quantidade suficiente para assegurar a redução da pressão sobre as células que se encontram desinsufladas. Estudos evidenciaram que essas superfícies de suporte estavam associadas ao maior desenvolvimento de LP quando comparadas a outras com células maiores (13,5 cm).

Nesse sentido, reitera-se que o paciente que já possui LP, se possível, não deve ser reposicionado sobre a lesão.

A superfície de suporte que proporcione redistribuição mais eficaz da pressão, redução do cisalhamento e controle do microclima deve ser utilizada caso o paciente:

  • Só possa ser posicionado sobre a LP existente;
  • Tenha lesões por pressão em duas ou mais regiões corporais (por exemplo, sacro e trocânter) que limitem as opções de reposicionamento;
  • Não apresente melhoras no processo de cicatrização da LP ou, até piore, apesar da prestação de cuidados adequada;
  • Tenha risco elevado de desenvolver outras lesões por pressão e/ou “afunde” na superfície de suporte existente.

Quando as lesões por pressão pioram ou não cicatrizam, o profissional da saúde deve considerar a substituição da superfície de suporte existente por uma que proporcione um ambiente devidamente adequado em termos de pressão, cisalhamento e microclima. A mudança da superfície de suporte é apenas uma das várias estratégias possíveis de serem adotadas, nesse caso. O reposicionamento mais frequente, intervenções preventivas e tratamento da ferida devem ser intensificados conforme a necessidade do paciente.

Antes de substituir a superfície de suporte atual, deve-se avaliar a eficácia dos atuais e anteriores planos de cuidados para prevenção e de tratamento de LP para certificar-se de que estão adequados.


RECOMENDAÇÕES GERAIS SOBRE SUPERFÍCIES DE SUPORTE PARA A POSIÇÃO SENTADA


Quando o paciente está sentado, o peso do corpo é apoiado em uma região corporal relativamente pequena, por exemplo, glúteos, região posterior das coxas e pés. A posição sentada provoca um aumento da pressão na interface com a superfície de suporte e o corpo do paciente e dificulta o reposicionamento para redistribuir o peso do corpo para outras regiões anatômicas.

Períodos prolongados na posição sentada causa forte predisposição de desenvolver LP, especificamente na região isquiática.

A seleção e a reavaliação periódica de uma superfície de suporte para a posição sentada e de equipamentos associados à postura e redistribuição da pressão devem considerar:

  • O tamanho e a configuração do corpo do paciente;
  • Os efeitos da postura e a deformidade na distribuição da pressão;
  • Necessidades de mobilidade e de estilo de vida.

Sempre que possível, deve-se optar por uma capa de almofada flexível/respirável que se adapte de forma solta na parte superior da almofada e que seja capaz de ajustar-se aos contornos do corpo do indivíduo. Uma capa apertada e não flexível afetará negativamente o desempenho da almofada.

O aumento da temperatura nos tecidos aumenta o risco de desenvolver LP. Dessa maneira, deve-se avaliar a almofada e a capa em relação à dissipação de calor, ou seja, escolher materiais que permitam a circulação de ar para reduzir a temperatura e a umidade na região dos glúteos.

As almofadas de assentos devem ser inspecionadas diariamente para verificação de sinais de desgaste e o paciente deve ser orientado sobre a utilização e manutenção de superfícies de suporte para a posição sentada (incluindo cadeiras de rodas) e sobre os dispositivos almofadados.


SUPERFÍCIES DE SUPORTE PARA A POSIÇÃO SENTADA PARA PREVENIR E TRATAR AS LESÕES POR PRESSÃO


Essa intervenção consiste na utilização de almofadas apropriadas para a redistribuição e alívio da pressão para pacientes com a mobilidade reduzida que permanecerão sentados, bem como para aqueles que já desenvolveram uma ou mais LPs.

A almofada redistribui a pressão por meio de dois métodos básicos:

  • Imersão/envolvimento: é a capacidade da superfície de suporte de deformar e envolver o contorno do corpo. As almofadas devem permitir a imersão dos glúteos no material (ex.: espuma). A pelve precisa de, aproximadamente, 50mm de imersão/envelopamento para que a almofada seja considerada adequada;
  • Redirecionamento ou alívio da carga: são almofadas que redirecionam cargas por meio de áreas de relevo em sua superfície.

Chegamos ao fim da Superfícies de suporte!

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O projeto RECURSO EDUCACIONAL SOBRE PREVENÇÃO E MANEJO DA LESÃO POR PRESSÃO, desenvolvido em 2018, compõe parte da tese de doutorado do Enfermeiro Rodrigo Magri Bernardes.
Revisão e publicação: fevereiro/2020.